LGBT+ e o Trabalho no Mês do Orgulho!
O mês de junho é a época do ano em que o movimento LGBTQIA+ possui mais visibilidade, tendo em vista um evento histórico, mas não devemos esquecer que a luta é contínua e acontece em todos os meses do ano. Dessa forma, a escolha do mês de junho não foi algo aleatório, mas sim uma referência à revolta de Stonewall que ocorreu em Nova York no dia 28 de junho quando um grupo de homossexuais decidiu enfrentar e resistir frente a frequente violência policial sofrida pela população LGBTQIA+, o grupo permaneceu vários dias confinado no bar Stonewall Inn e recebeu o apoio de uma multidão que aprovava a resistência amontoada do lado de fora do bar, desde então o dia 28 de junho é tido como O Dia Internacional do Orgulho Gay.
Na história do Brasil, a população LGBTQIA+ foi perseguida, passou por longos processos de marginalização, exclusão social e foi criminalizada quando as relações entre pessoas do mesmo gênero eram proibidas por leis. Mesmo depois da descriminalização, os preconceitos sociais e os estereótipos existentes não foram eliminados e, na verdade, a homossexualidade e a transexualidade ainda eram consideradas doenças no país. Somente no final do século XX, quando o Movimento LGBT nasceu de maneira organizada, políticas públicas e direitos voltados para a proteção da comunidade foram reivindicados. As vitórias mais recentes do movimento LGBT no Brasil foram o reconhecimento das uniões civis homoafetivas, o direito do uso do nome social por travestis e transexuais e a criminalização da LGBTfobia.
Entretanto, apesar das vitórias e da luta constante do movimento LGBT, essa minoria ainda está sub-representada na política brasileira e continua vulnerável a diversas formas de violência, além de possuir dificuldades no acesso a empregos, educação, cultura e saúde, o que impossibilita a adoção e a construção de novas medidas contra a LGBTfobia. Outro fator de impedimento se refere ao fato que a população LGBTQIA+ brasileira segue sendo "desconhecida", uma vez que os levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são limitados e, muitas vezes, permeados por preconceitos e pela dificuldade de auto identificação de algumas pessoas. Ignorar esses dados é apagar a identidade dessas pessoas, limitar os modos de expressão que estão fora do que é considerado como padrão tradicional e, principalmente, ignorar o reconhecimento do problema público de exclusão social que essa parcela da população sofre em decorrência da LGBTfobia.
Neste mês de junho, mais do que nunca, devemos dar a devida visibilidade à luta pelas reivindicações dos direitos da população LGBTQIA+ no Brasil, país onde, principalmente durante os últimos 4 anos, o regresso, o preconceito e a intolerância são escancarados e expostos até mesmo nas falas dos nossos representantes políticos que passam a validar esse tipo de prática, muito comum em uma parcela da população mais conservadora do país, que se autodenomina de "cidadãos de bem" e se apoiam na defesa e na preservação da "família tradicional brasileira" para justificar o preconceito, a violência e a discriminação. Vale lembrar que, segundo o relatório elaborado pelo Grupo Gay da Bahia sobre mortes violentas de LGBTQIA+, o Brasil é o país onde a cada 26 horas uma pessoa LGBT é vítima de homicídio ou comete suicídio e, ainda assim, não se fala ou se dá a devida atenção à necessidade da garantia e da implementação dos direitos LGBTQIA + no Brasil.
Nesse sentido, nota-se que no cenário brasileiro ainda há diversos desafios para que este torne-se um ambiente mais receptivo vide a diversidade do seu povo. Mesmo diante de inúmeros avanços, permeia pela sociedade um sentimento prejudicial diante de determinados grupos, como o grupo LGBTQIA+. Assim, faz-se imprescindível relatar o contexto no mercado de trabalho. Infelizmente, os dados sobre o mercado de trabalho para a população LGBT são assustadores. Segundo pesquisa realizada pelo Center for Talent Innovation, 33% das empresas existentes no Brasil não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia. Além disso, ainda segundo o relatório, 41% dos funcionários deste grupo afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho. Portanto, são notórios os desafios enfrentados por esses sujeitos que, mesmo possuindo um excelente currículo e desempenho, são discriminados por serem quem são. Isso evidencia um problema extremamente profundo, visto que as consequências afetam, além do psicológico dos sujeitos, também suas vidas financeiras.
Ademais, 61% dos funcionários LGBT no Brasil escolhem esconder de colegas e gestores a sua orientação sexual por receio de represálias e possíveis demissões, segundo pesquisa do Santo Caos. Nessa perspectiva, compreende-se que há também um preconceito muito velado, por parte de colegas e gestores, que se mostra por meio de piadas e comentários às escondidas. Evidencia-se, então, que o ambiente de trabalho, muitas vezes, pode mostrar-se um ambiente extremamente estressante e criador de distúrbios mentais. O sujeito percebe-se em um local não empático, no qual precisa esconder-se para não atrair comentários maldosos. Ao negar-se, desenvolve inúmeros problemas que, ao longo do tempo, podem ser insustentáveis.
Ainda sobre a temática, a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) nos apresenta dados assustadores sobre o número de mortes de pessoas Trans. No Brasil, entre 2017 e 2021, ocorreram 781 mortes de pessoas trans brasileiras. O Ceará é o segundo estado que mais mata, atrás apenas de São Paulo.
A professora Dani Albi, em entrevista para a Agência Brasil (2019), diz que pessoas trans recebem um maior estímulo para saírem da escola. Segundo a professora, são mais de 70% trans e travestis que abandonam o ensino básico em nosso país. Assim, não recebendo ensino básico que prejudicará, não somente a socialização dessa pessoa, como também, terá impactos na inserção no mercado formal de trabalho. Sendo, então, capturadas pelo mercado informal, por exemplo, o de prostituição. Desse modo, serão expostas às violências da rua: a maioria dos assassinatos de pessoas trans são mulheres Trans e travestis.
Nisso, vemos que os entraves da inserção de pessoas trans no mercado de trabalho formal vem muito antes do recrutamento e da seleção. Começa nas violências vividas nas escolas que obrigam essas pessoas a se privarem de um direito básico que não é assegurado pelo Estado, sendo ele muitas vezes conivente com essas violências através do silêncio dos profissionais dessas instituições. De acordo com a Antra (2022) a maioria dos assassinos de pessoas trans e travestis são soltos logo após serem apreendidos, mesmo confessando o crime. O conhecimento da impunidade pode ser um fator que reforça a execução desses corpos. Corpos marginalizados e destituídos da socialização escolar e muitas vezes da família e trabalho. Ainda segundo a associação, é reservado para pessoas trans e travestis um requinte de crueldade.
É notória a pouca movimentação de políticas públicas para ações de suporte e introdução dessas pessoas no mercado formal. Nota-se um distanciamento de pessoas trans e travestis de espaços de socialização desde pouca idade. Esse aspecto pode contribuir para criar uma imagem distorcida dessa população, reforçado por setores conservadores do nosso país. O distanciamento entre suas performances de gênero e seus sexos biológicos afastam recrutadores dessa comunidade, dessa maneira, nos alertando para uma mudança radical no entendimento do corpo e performances de gênero em nosso mundo diverso e múltiplo. É necessário que as empresas entendam que pessoas LGBTQIA+ existem antes e depois de Junho. Esses corpos não se desintegram em purpurina no dia 30 de junho. Resistem 24h por dia, todo dia, todo ano. Vive-se por aquelas que se foram e por aquelas que virão e aquelas que sobrevivem hoje.
“Eu jamais pedirei a qualquer um de vocês por respeito. Eu vou exigir!”,
Dominique Jackson 2020.
Na história do Brasil, a população LGBTQIA+ foi perseguida, passou por longos processos de marginalização, exclusão social e foi criminalizada quando as relações entre pessoas do mesmo gênero eram proibidas por leis. Mesmo depois da descriminalização, os preconceitos sociais e os estereótipos existentes não foram eliminados e, na verdade, a homossexualidade e a transexualidade ainda eram consideradas doenças no país. Somente no final do século XX, quando o Movimento LGBT nasceu de maneira organizada, políticas públicas e direitos voltados para a proteção da comunidade foram reivindicados. As vitórias mais recentes do movimento LGBT no Brasil foram o reconhecimento das uniões civis homoafetivas, o direito do uso do nome social por travestis e transexuais e a criminalização da LGBTfobia.
Entretanto, apesar das vitórias e da luta constante do movimento LGBT, essa minoria ainda está sub-representada na política brasileira e continua vulnerável a diversas formas de violência, além de possuir dificuldades no acesso a empregos, educação, cultura e saúde, o que impossibilita a adoção e a construção de novas medidas contra a LGBTfobia. Outro fator de impedimento se refere ao fato que a população LGBTQIA+ brasileira segue sendo "desconhecida", uma vez que os levantamentos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são limitados e, muitas vezes, permeados por preconceitos e pela dificuldade de auto identificação de algumas pessoas. Ignorar esses dados é apagar a identidade dessas pessoas, limitar os modos de expressão que estão fora do que é considerado como padrão tradicional e, principalmente, ignorar o reconhecimento do problema público de exclusão social que essa parcela da população sofre em decorrência da LGBTfobia.
Neste mês de junho, mais do que nunca, devemos dar a devida visibilidade à luta pelas reivindicações dos direitos da população LGBTQIA+ no Brasil, país onde, principalmente durante os últimos 4 anos, o regresso, o preconceito e a intolerância são escancarados e expostos até mesmo nas falas dos nossos representantes políticos que passam a validar esse tipo de prática, muito comum em uma parcela da população mais conservadora do país, que se autodenomina de "cidadãos de bem" e se apoiam na defesa e na preservação da "família tradicional brasileira" para justificar o preconceito, a violência e a discriminação. Vale lembrar que, segundo o relatório elaborado pelo Grupo Gay da Bahia sobre mortes violentas de LGBTQIA+, o Brasil é o país onde a cada 26 horas uma pessoa LGBT é vítima de homicídio ou comete suicídio e, ainda assim, não se fala ou se dá a devida atenção à necessidade da garantia e da implementação dos direitos LGBTQIA + no Brasil.
Nesse sentido, nota-se que no cenário brasileiro ainda há diversos desafios para que este torne-se um ambiente mais receptivo vide a diversidade do seu povo. Mesmo diante de inúmeros avanços, permeia pela sociedade um sentimento prejudicial diante de determinados grupos, como o grupo LGBTQIA+. Assim, faz-se imprescindível relatar o contexto no mercado de trabalho. Infelizmente, os dados sobre o mercado de trabalho para a população LGBT são assustadores. Segundo pesquisa realizada pelo Center for Talent Innovation, 33% das empresas existentes no Brasil não contratariam pessoas LGBTQIA+ para cargos de chefia. Além disso, ainda segundo o relatório, 41% dos funcionários deste grupo afirmam já terem sofrido algum tipo de discriminação em razão de sua orientação sexual ou identidade de gênero no ambiente de trabalho. Portanto, são notórios os desafios enfrentados por esses sujeitos que, mesmo possuindo um excelente currículo e desempenho, são discriminados por serem quem são. Isso evidencia um problema extremamente profundo, visto que as consequências afetam, além do psicológico dos sujeitos, também suas vidas financeiras.
Ademais, 61% dos funcionários LGBT no Brasil escolhem esconder de colegas e gestores a sua orientação sexual por receio de represálias e possíveis demissões, segundo pesquisa do Santo Caos. Nessa perspectiva, compreende-se que há também um preconceito muito velado, por parte de colegas e gestores, que se mostra por meio de piadas e comentários às escondidas. Evidencia-se, então, que o ambiente de trabalho, muitas vezes, pode mostrar-se um ambiente extremamente estressante e criador de distúrbios mentais. O sujeito percebe-se em um local não empático, no qual precisa esconder-se para não atrair comentários maldosos. Ao negar-se, desenvolve inúmeros problemas que, ao longo do tempo, podem ser insustentáveis.
Ainda sobre a temática, a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) nos apresenta dados assustadores sobre o número de mortes de pessoas Trans. No Brasil, entre 2017 e 2021, ocorreram 781 mortes de pessoas trans brasileiras. O Ceará é o segundo estado que mais mata, atrás apenas de São Paulo.
A professora Dani Albi, em entrevista para a Agência Brasil (2019), diz que pessoas trans recebem um maior estímulo para saírem da escola. Segundo a professora, são mais de 70% trans e travestis que abandonam o ensino básico em nosso país. Assim, não recebendo ensino básico que prejudicará, não somente a socialização dessa pessoa, como também, terá impactos na inserção no mercado formal de trabalho. Sendo, então, capturadas pelo mercado informal, por exemplo, o de prostituição. Desse modo, serão expostas às violências da rua: a maioria dos assassinatos de pessoas trans são mulheres Trans e travestis.
Nisso, vemos que os entraves da inserção de pessoas trans no mercado de trabalho formal vem muito antes do recrutamento e da seleção. Começa nas violências vividas nas escolas que obrigam essas pessoas a se privarem de um direito básico que não é assegurado pelo Estado, sendo ele muitas vezes conivente com essas violências através do silêncio dos profissionais dessas instituições. De acordo com a Antra (2022) a maioria dos assassinos de pessoas trans e travestis são soltos logo após serem apreendidos, mesmo confessando o crime. O conhecimento da impunidade pode ser um fator que reforça a execução desses corpos. Corpos marginalizados e destituídos da socialização escolar e muitas vezes da família e trabalho. Ainda segundo a associação, é reservado para pessoas trans e travestis um requinte de crueldade.
É notória a pouca movimentação de políticas públicas para ações de suporte e introdução dessas pessoas no mercado formal. Nota-se um distanciamento de pessoas trans e travestis de espaços de socialização desde pouca idade. Esse aspecto pode contribuir para criar uma imagem distorcida dessa população, reforçado por setores conservadores do nosso país. O distanciamento entre suas performances de gênero e seus sexos biológicos afastam recrutadores dessa comunidade, dessa maneira, nos alertando para uma mudança radical no entendimento do corpo e performances de gênero em nosso mundo diverso e múltiplo. É necessário que as empresas entendam que pessoas LGBTQIA+ existem antes e depois de Junho. Esses corpos não se desintegram em purpurina no dia 30 de junho. Resistem 24h por dia, todo dia, todo ano. Vive-se por aquelas que se foram e por aquelas que virão e aquelas que sobrevivem hoje.
“Eu jamais pedirei a qualquer um de vocês por respeito. Eu vou exigir!”,
Dominique Jackson 2020.
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