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Primeiro de maio, dia de festa!?






Como já virou tradição, em abril, nós que fazemos o NUTRA nos reunimos para refletir sobre possíveis realizações para o primeiro de maio, data comemorativa do Trabalho. Esse momento tornou-se tradição porque a categoria trabalho é o elemento que constitui o eixo articulador da nossa filiação a Psicologia Social do Trabalho.

Nossa reflexão já nos levou a diferentes propostas de ações que resgatem a centralidade autêntica da atividade laboral. Sim, estamos inseridos na academia e, portanto, refletimos sobre categorias teóricas determinantes que se entrelaçam na abordagem do tema – trabalho concreto e abstrato, precarização e flexibilização, temporalidade e espacialidade, neoliberalismo, subjetividade do trabalhador, dentre tantas outras. Nosso compromisso se reafirma, no entanto, com a classe trabalhadora, cada dia mais diversa e complexa. Adentramos numa corrida muitas vezes reativa de acompanhar as grandes mutações que operam no mundo do trabalho. As vezes compreendemos “na carne” a experiência de Sisifo, noutras, alimentamos a esperança de girarmos a chave para empreendermos uma transformação que derive dos trabalhadores no enfrentamento aos processos que atenuam e tendem a tomar como natural, processos que debilitam a resistência da força coletiva.

Esse ano, por força do nosso planejamento, decidimos eleger como temática interna de nossa formação a questão das possíveis formas de resistência que podem ser articuladas pela classe trabalhadora. Essa opção parte do reconhecimento de que os modelos de inserção laboral e de práticas organizativas estão cada vez mais diversos e diferentes daqueles que foram experimentados na sociedade salarial. O neoliberalismo tem fomentado uma arquitetura diferenciada do modo de ser trabalhador.

Estamos diante de um cenário que se transmuta. Os direitos sociais foram ganhos obtidos pela força coletiva que tinham nos sindicatos o seu ícone perfeito. Eles, os sindicatos, nasceram em lugares com grande concentração de trabalhadores, como afirma Yanis Varoufakis, ex-ministro das finanças da Grécia. Diante, porém, nos novos modelos de organização do trabalho, pautados na desconcentração, na competitividade, no individualismo, na cultura digital – vocábulos precípuos do glossário neoliberal – o capitalismo engrossa a premissa do que Garcia Vega denominou em artigo publicado no El País, de tecnofeudalismo.

O culto ao individualismo, de forma especial, é a “mais mortal” arma encontrada pelo ideário neoliberal para enfrentar a resistência que pode ser desenvolvida pela classe trabalhadora. Se pensarmos num cenário de lutas de classe, vemos que os trabalhadores estão quase que privados de uma capacidade reativa diante da aliança que se expande entre corporações, políticos conservadores e mídia favorável ao interesse do capital. As reformas trabalhista e previdenciária, ocorridas em nosso país nos últimos anos, são bastante representativas dessa aliança e somadas à premissa do individualismo e da competitividade, tornam a ideia de consciência de classe bastante difusa.

Quando a lógica do mercado prevalece sobre os interesses sociais, acessamos a ideia de que a precarização se torna uma estratégia de produção subjetiva principalmente para os novos trabalhadores, aqueles que não experimentaram a força coletiva como resistência aos processos de exploração do capital, típicos da sociedade salarial. Isso acaba tendo reverberação entre aqueles que estão formalmente inseridos, porque se veem ameaçados de perder aquilo que foi fruto das conquistas sindicais ou, o que se torna mais preocupante, submete os precários – seja sobre a alcunha de empreendedores, seja como reconhecidamente fragilizados – à incerteza, a ausência de tempo pessoal e de um projeto de vida.

Nosso desafio agora é entendermos que é preciso pensar sobre estratégias de resistência, até porque os modos de organização do trabalho experimentados na contemporaneidade são distintos. Algumas das investigações que realizamos por meio da iniciação científica, dissertações e teses de nossos membros têm se voltado a pensar sobre essa temática. Esse será um assunto a ser debatido ao longo desse ano no NUTRA na nossa formação interna.

Se por ocasião do primeiro de maio resolvemos trazer essa reflexão a tona, é porque reconhecemos que apesar de árdua, nossa luta deve ser cotidiana e que mesmo ao identificar que a data comemorativa cai num dia de domingo, ou talvez até por isso, nossa festa ou comemoração deve ser atravessada pela nossa luta em prol do trabalho. Que o primeiro de maio nos leve a sair do nosso isolamento e resgate nossa comunhão, como base para nossa resistência.


*Imagem Sebastião Salgado. 

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