A Saúde mental dos (as) trabalhadores (as) sem trabalho

O trabalho ostenta uma gama de significados para os sujeitos. Nesse sentido, segundo Barros e Oliveira (2009), além do campo econômico ele caracteriza também um papel social, uma forma de inserção na sociedade, bem como é estruturante da organização social, como também de identidade e interação social dentre outros. Já Antunes (2005) nos relata que o mundo do trabalho tem sido vital para mulheres e homens e que através do ato laborativo, que Marx chamou de “atividade vital”, essas pessoas se diferenciariam de animais.
Logo, em vista dessa variedade de significado, pode-se presumir os impactos que o desemprego acarreta na saúde mental dos (as) trabalhadores (as). De acordo com Barros e Oliveira, (2009) pessoas em situação de desemprego possuem, com mais frequência e intensidade, sofrimentos relacionados à baixa autoestima, sentimento de vergonha e humilhação. O (a) trabalhador (a), no momento que vivencia essa experiência do desemprego, ainda segundo os autores, perde sua identidade social, perde seu status de “homem/mulher trabalhadora (a)”.
É perceptível nos programas policiais sensacionalistas de nosso país o discurso da maioria dos familiares das vítimas da violência, de evidenciar que a pessoa em questão possuía um trabalho, era um (a) trabalhador (a), denotando que ser trabalhador (a) possui um valor ético-moral. O pensamento cristão pode ser um corroborador dessa ideia. Antunes (2005), a respeito disso, afirma que o pensamento cristão sobre trabalho é entendido como um martírio e caminho para a salvação, dando sequência a um entendimento da questão do trabalho que por vezes é controverso. Então é frequente nos (as) trabalhadores (as) que se encontram em situação de desemprego, o sentimento de desamparo, exclusão e vergonha (Barros e Oliveira, 2009).
Além disso, a ideologia dominante culpabiliza o (a) trabalhador (a) por sua condição de desemprego, apontando que sua desqualificação ou falta de empregabilidade e proatividade é a razão para sua situação, logo, esse sujeito sofre pela falta material, perda de identidade e agora, também, pela responsabilidade de sua própria condição de desamparo (Barros e Oliveira, 2009). O que simplifica erroneamente uma temática complexa, excluindo aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos vigentes em nossa sociedade que contribuem para a condição de desemprego de muitos.
No Brasil, no mês de junho de 2020, segundo Barros (2020), foram registrados 12,4 milhões de desempregados, atingindo assim 13,1% da população brasileira. Essa situação se agrava pelo contexto de pandemia do novo coronavirus (COVID-19) que, de acordo com Brooks e colaboradores (2020), aumenta a probabilidade de um quadro de ansiedade, disposição a depressão e afins. Corroborando para uma intensificação do sofrimento já proporcionado pelo desemprego
Em vista do exposto, é nítida a influência negativa do desemprego na vida dos (as) trabalhadores (as). Contudo, isso não quer dizer que quem não esteja desempregado não tenha sua saúde mental afetada. Conforme Pinheiro e Monteiro (2007), há nos trabalhadores (as) um medo imperativo do desemprego, da falta de seu “ganha pão amanhã”. O trabalho precário torna-se então uma forma de sobrevivência desses sujeitos, mesmo sendo contra sua própria vontade (Nardi, 2006). Assim, submetem-se a esse tipo de trabalho para não se tornarem mais um entre milhões que compõem a classe trabalhadora sem trabalho.
Referência
*Imagem: Ana Rayssa/CB/D.A
Pinheiro, L,R. Monteiro, J,K. Refletindo sobre desemprego e agravos à saúde mental. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. 2007. Disponível em: ,http://pepsic.bvsalud.org/pdf/cpst/v10n2/v10n2a04.pdf
Antunes,R. O CARACOL E SUA CONCHA: Ensaio sobre a Nova Morfologia do Trabalho. Boitempo. São paulo. 2005.
Nardi, H,C. Ética, Trabalho, Subjetividade. Ed. UFRGS, 2006.
Barros, C,A. Oliveira, T,L. Saúde Mental de Trabalhadores Desempregados. Rev. Psico., Organ. Trab. v.9 n.1. Florianópolis. 2009. Disponível: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rpot/v9n1/v9n1a06.pdf
Barros, A. Desemprego sobe para 13,1% e atinge 12,4 milhões na 4ª semana de junho. Agência IBGE notícias. 2020. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/28310-desemprego-sobe-para-13-1-e-atinge-12-4-milhoes-na-4-semana-de-junho
Brooks,S,K.Webster,R,K.Smith,L,E.Woodland,L.Wesseley,S.Greenberg,N. Rubin,G,J. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. The lancet,2020. Disponível em: https://www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2820%2930460-8
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