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IDOSOS (AS) NO MERCADO DE TRABALHO




O período da vida comumente chamado “terceira idade” é ainda, muitas vezes, tido em nossa sociedade como um período de improdutividade, de decadência da força e da vida. Segundo Ramos, Souza e Caldas ( 2008) tais preconceitos derivam da falta de informação diante do potencial das pessoas idosas. Dessa forma, cria-se no mercado de trabalho uma estigmatização do envelhecimento como sinônimo de um processo degradante. Também podemos inferir que a falta de políticas públicas mais eficazes, tal como o déficit na fiscalização nas leis de proteção ao idoso fortificam a discriminação sofrida por essa população.

Os autores Muniz e Barros (2014) afirmam que pela lógica mercantil rígida, tão presente em nossa sociedade atual, parar de trabalhar traz danos profundos aos âmbitos profissional, familiar e social da vida do trabalhador. Assim, o sujeito velho é isolado da sociedade e, nesse momento, é atribuído a ele uma imagem de um ser improdutivo e impotente. Segundo as Organização Mundial da Saúde (OMS) (2005), o grupo composto por pessoas “mais velhas” é formado por pessoas com idade a partir de 60 anos, e espera-se que até 2025 o Brasil seja o sexto país com a maior população de idosos no mundo (33,4 milhões).

Em vista desse cenário de crescimento dessa população, é de grande importância a realização de discussões sobre a temática para a sua desmistificação e inclusive a realização de ações de preparação para a aposentadoria. Pois, de acordo com Ramos, Souza e Caldas (2008), embora por vezes o trabalho possa ser de alguma forma aversivo, sua perda promove um sentimento de solidão, angústia e até mesmo sentimentos destrutivos que podem, em última instância, levar à morte. Ademais, o trabalho continuado mesmo depois da aposentadoria, seja ele remunerado ou não, é um caminho trilhado por muito dos idosos hoje, tanto pelo benefício oferecido não suprir necessidades básicas, ou porque o aposentado é a fonte principal da renda da família (MUNIZ e BARROS, 2014) ou mesmo como uma forma de fortalecer o sentimento de pertença e integração social.

Ainda de acordo com os autores supracitados, com esse grupo de pessoas com mais de 60 anos adentrando no mercado de trabalho, quando conseguem, se fazem necessárias adequações tanto dos sujeitos quanto das empresas no processo produtivo que nem sempre é fácil para o indivíduo. Em vista das altas taxas de desemprego e, segundo Muniz e Barros (2014), por estarem inseridos num sistema capitalista que exalta o jovem e busca a extinção do velho, esses indivíduos se veem muitas vezes obrigados a aceitar a precarização e desvalorização diante de uma sociedade que tende a não valorizar sua experiência, a não protegê-lo e também não cria políticas públicas para um acompanhamento dessa população que tende a crescer ainda mais.

Em vista disso, podemos observar que há contradições nessa relação do idoso no mercado de trabalho e que queremos evidenciar em uma primeira discussão aqui no blog. Se por um lado, o idoso pode ser percebido como um corpo velho improdutivo e isolado, não se pode negar que, muitas vezes ele é o provedor da renda familiar e, em muitas situações, a sua experiência é essencial na solução de situações e conflitos laborais mais complexos. As altas taxas de desemprego, que os economistas neoliberais, segundo Nardi (2006), chamam de “taxa natural” do desemprego, são uma ferramenta de pressão perante, em específico aqui discutido, o (a) trabalhador (a) velho (a). Esses, portanto, mesmo sem conseguir dar continuidade ao seu trabalho e por ser a renda fundamental no seio familiar, adentram ao trabalho informal (MUNIZ e BARROS, 2014). Tais aspectos são característicos da globalização, que tende ao sucateamento de políticas sociais para um “possível” crescimento de acordo com a lógica neoliberal (NARDI, 2006).

Esses processos são bem conhecidos da população, mesmo que o teor político não seja percebido em um primeira momento. Tais ações de ataque aos trabalhadores, mais especificamente, velhos podem ser encontradas em produções da sétima arte, como no filme “Eu, Daniel Blake” que conta a história de um artesão que após um ataque cardíaco começa uma batalha contra o sistema de benefício social. O filme aborda questões aqui já discutidas de forma sensível, porém, deve-se lembrar que ainda assim é uma obra ficcional e comercial. Mas que é de grande valia para os espectadores. É nítida a supervalorização do capital diante da vida da classe trabalhadora que tanto foi explorada em toda sua vida e no final da mesma não tem as mínimas condições de gozar a cultura, o lazer e o convívio familiar.

Também convidamos aos leitores do Blog a conhecerem projetos que promovem ações de promoção de saúde no trabalho como o “Projeto de Valorização do Aposentado” e “Projeto de preparação para a Aposentadoria” que fazem parte do “Programa Saúde e Bem-Estar no Trabalho” desenvolvido pela Coordenadoria de Qualidade de Vida no Trabalho da Pro-Reitoria de Gestão de Pessoas da UFC. Segue o contato para mais informações: coqvt.progep@ufc.br.



*Imagem retirado do site: eshoje.com.br










referências


Organização Mundial de Saúde (OMS). Envelhecimento ativo: uma política de saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2005. Disponível em <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf> Acesso em: 31 out. 2020.

Nardi,H,C. Ética, Trabalho, Subjetividade. Ed. UFRGS. 2006

Muniz, T,S. Barros, A. O trabalho idoso no mercado de trabalho do capitalismo contemporâneo. Ciências humanas e sociais.103-106. 2014. Disponível em: <https://periodicos.set.edu.br/fitshumanas/article/view/1079> Acesso em: 30 out. 2020.

Ramos, E,L. Souza, N,V,O. Caldas, C,P. Qualidade de vida do idoso trabalhador. Rev. enferm. UERJ, Rio de Janeiro, 2008. Disponível em : <http://files.bvs.br/upload/S/0104-3552/2008/v16n4/a507-511.pdf> Acesso em 30 out. 2020.

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