A apropriação do Mindulness como espiritualidade do capitalismo, o Mcmindfulness.
Temos visto nos últimos anos, principalmente com a
expansão da “profissão” de coacing (tema pra outro texto) um crescente discurso,
dentro das organizações de trabalho, falando sobre o controle das emoções e inteligência
emocional, o que não deveria ser algo ruim, mas, a forma como isso vem sendo
tratado é que é o problema. Tem se colocado o controle ou a falta de controle
das emoções como o centro dos problemas laborais, como se o fato de alguém
desenvolver problemas dentro do ambiente laboral tais como estresse crônico ou
depressão fosse responsabilidade desses indivíduos, porque este não tem
controle sobre as emoções, o perigo disso é que esse modo de pensamento descartando
totalmente o contexto aboral.
Nessa onda de culpabilização e responsabilização do
trabalhador pelos problemas e patologias laborais surge mais uma moda revolucionária,
o “McMindfulness” uma forma de derivação da
prática espiritual mindfulness.
“Mindfulness é um conjunto de técnicas e práticas
que nasceu há séculos na Índia e o seu propósito não era apenas tirar o estresse
e fazer com que as pessoas se sentissem um pouco melhor, mas percorrer um
caminho espiritual que incluía muitas outras coisas além da meditação per
si.” Um caminho de desenvolvimento ético e moral, que levava à
sabedoria e à compaixão, contudo o “McMindfulness”
é uma deturpação dessa prática, a secularização da técnica e o seu relativismo
carente de uma base moral abriu uma série de usos duvidosos do mindfulness,
chamados pelos seus críticos de “McMindfulness”, uma apropriação do capitalismo
por “profissionais” charlatões que buscam responsabilizar única e exclusivamente
o trabalhador pela sua qualidade laboral que ocorre quando o mindfulness
é usado, intencionalmente ou involuntariamente, para propósitos egoístas e que
melhoram o ego, o que contraria os ensinamentos budistas e abraâmicos para
deixar o apego ao ego e desenvolver meios hábeis compassivos para todos.
“O
McMindfulness tem como objetivo reduzir o stress dos indivíduos, mas não se
interessa pelas causas sociais do stress” é vendido como se fosse uma panaceia para
qualquer estado mental de ansiedade. A prática de mindfulness não é indicada
para toda a gente, e alguns estudos começam a mostrar que pode, aliás, causar
ainda mais ansiedade e que a meditação tem efeitos adversos para algumas
pessoas.
“Em vez de abandonar o ego,
McMindfulness promove o auto-engrandecimento; a sua função terapêutica é
confortar, entorpecer, ajustar e acomodar o eu dentro de uma sociedade
neoliberal, corporativizada, militarizada e individualista, baseada no ganho
privado”.
O McMindfulness tem como
objetivo reduzir o stress dos indivíduos, mas não se interessa pelas causas
sociais do stress. “No mundo empresarial, os cursos de mindfulness têm um
grande apelo porque se converteram num método moderno para subjugar a
inquietação dos funcionários, promovendo uma aceitação tácita do status quo, e
numa ferramenta instrumental para manter a atenção focada nos objetivos
empresariais”. O mindfulness, eles argumentam, precisa recuperar uma estrutura
ética que vai além do ajuste individual a uma sociedade baseada no capitalismo
de mercado que contribui para o stress e outras fontes de infelicidade.
As práticas do
McMindfulness psicologizam e medicalizam os problemas é cego para o atual
contexto moral, político e cultural do neoliberalismo. “Como resultado, não
compreende que uma sociedade individualista, terapeutizada e mercantilizada é,
em si mesma, uma grande geradora de sofrimento e angústia social”. Em vez
disso, o melhor que pode fazer, ironicamente, é nos oferecer uma “cura” individualista
e mercantilizada. Retira da empresa/organização a responsabilidade
pelo estresse que esta causa no trabalhador e coloca-a nos indivíduos, por isso
esta prática está sendo conhecida como a “espiritualidade do capitalismo”.
FONTE
http://visao.sapo.pt/atualidade/entrevistas-visao/2019-10-27-O-mindfulness-e-a-espiritualidade-do-capitalismo
https://verdademundial.com.br/2019/08/o-mindfulness-capitalista/
PARA REFLETIR
A apropriação e deturpação da prática de mindfulness nos
mostra que, o mercado e o capital tem a capacidade de fazer uso de diversas
armas para se manter, sem que tenha a necessidade de se modificar. É importante
entendermos que o sofrimento no contexto aboral é diverso e amplo,
responsabilizar somente o trabalhador por sua saúde laboral é no mínimo
irresponsabilidade, por isso devemos ficar sempre atentos e informados para não
reproduzirmos esse discurso.
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