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Fim do Trabalho? Fim do Emprego?


por Tauanaiara Morais


Um assunto bastante discutido que tem relação direta com o tema da precarização é o questionamento sobre o fim do trabalho. Alguns autores defendem que o trabalho está se extinguindo, pois ele não seria estruturante na vida das pessoas e perderia seu lugar privilegiado na sociedade. Outros afirmam que esta sumindo apenas uma forma específica de trabalho: o emprego formal, de carteira assinada, com jornada fixa, estabilidade e até mesmo com um local fixo para onde os trabalhadores devem se deslocar todos os dias. Para falar sobre isto, traremos mais um fragmento da entrevista com o professor Cássio Adriano Braz de Aquino, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

STD: Alguns autores apontam para a crise da sociedade do trabalho. Como a noção de trabalho se relaciona com o conceito de precarização?

CA: São questões um pouco mais complexas para estabelecer essa relação. O que significa o discurso do fim da sociedade do trabalho? Alguns autores significativos no mundo das Ciências Sociais, por exemplo,Clauss Offe, Dominique Méda, vão apregoar que o trabalho é um categoria eminentemente histórica. Isso implica que, a partir da modernidade, o trabalho assumiu uma conotação de centralidade, mas muito mais mediada pelas questões econômicas e de demanda social do que pela própria ampliação de sua compreensão como categoria de constituição do sujeito. Esse recorte histórico, que muitos autores defendem, é o que possibilita a ideia de um fim da sociedade do trabalho. Se eu imagino que o trabalho é única e exclusivamente uma categoria histórica, essa ideia do fim do trabalho implica também o fim de um percurso histórico. Mas nós imaginamos que isso não é o suficiente para dar conta do fenômeno do trabalho. O trabalho é uma categoria, na minha concepção... E quando eu digo minha concepção existe uma série de autores nos quais eu me baseio pra falar sobre isso que vão definir que o trabalho é uma categoria antropológica. Ela está desde o princípio da constituição do sujeito, ela está no princípio da constituição das sociedades e implica necessariamente a forma de acesso e de negociação entre uma determinada coletividade. Pensando assim, falar sobre a crise da sociedade do trabalho é falar apenas de um modelo de trabalho. E que modelo é esse? É o modelo do emprego da sociedade salarial. Mas caso imagine-se que um contingente enorme de pessoas estão para além dessa relação de emprego, vamos imaginar uma categoria muito típica da nossa realidade: os camelôs. Eles não estão enquadrados dentro de uma relação de emprego, mas eles são todos trabalhadores. Eles têm um processo de produção e comercialização que os coloca dentro de uma realidade de trabalho. Então, dizer que esse modelo de trabalho está desaparecendo significa reconhecer que trata-se de apenas um recorte desse modelo, qual seja: o do emprego. Mas a realidade do Trabalho permanece. Ela permanece porque ela está no âmago da constituição da sociedade. Marx na sua definição de trabalho dizia claramente que o trabalho é toda a ação do homem sobre a natureza transformando essa natureza e, ao mesmo tempo, se transformando e se produzindo. A produção do sujeito é permanente. Falar do fim do trabalho seria uma coisa bastante duvidosa. Agora a gente precisa imaginar que se pode hipotetizar o fim de um tipo específico ou de uma relação específica de trabalho, que é o da sociedade salarial marcada pelo fenômeno do emprego. Mas eu vou mais além. Eu digo que não só essa sociedade salarial está desaparecendo. O que a gente tem é um momento das chamadas pós-modernidades. Esse termo tem vários simulacros, às vezes eu posso dizer “modernidade tardia”, “modernidade por avançar”, alguns conceitos que os autores trabalham, de modo que a partir desses fenômenos tem-se a ideia de que é possível a convivência de vários modelos de inserção laboral. Eu acredito que é por ai. Eu acho que permanece ainda o ideário do emprego, permanece a informalidade, permanecem vínculos outros e surgem novas formas de inserção laboral que antes não se pensava historicamente. A pós-modernidade coloca a possibilidade da convivência desses vários fenômenos e associado a isso, voltando lá para a primeira pergunta que você me fez sobre o processo de precarização (ver post I - Precarização, Neoliberalismo e Relações de Trabalho), trata-se de um fenômeno que se adéqua perfeitamente a convivência desses diversos modelos de inserção laboral.

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