A mulher e as relações de trabalho
A mulher tem um grande histórico de lutas
contra a desigualdade de gênero e já obteve várias conquistas, porém essa desigualdade
ainda existe e está presente em vários contextos. Uma grande expressão dessa
desigualdade está nas relações de trabalho, portanto, são necessárias algumas discussões acerca
desse tema. Haja vista a importância desse debate, o Programa Vida no Trabalho
contou com a contribuição da professora do Departamento de Ciências Sociais da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Danielly Niilin, e a colaboração do
professor do Departamento de Psicologia da Universidade Federal do Ceará e
Coordenador do Núcleo de Psicologia do Trabalho (Nutra), Cássio Aquino.
A professora Danielly Niilin começa a
discussão, abordando a questão das mudanças no mercado de trabalho atual. Ela
afirma que as características exigidas por esse mercado (flexibilidade,
criatividade, originalidade, etc.) fazem as mulheres se sentirem contempladas,
já que são adjetivos, geralmente, comuns ao gênero feminino.
Niilin afirma que, de fato, as mulheres
estão ocupando expressivamente o mercado de trabalho, principalmente, nas três
últimas décadas. Ela aponta que, atualmente, as mulheres são 45% da população
empregada, porém essa realidade não indica igualdade nem grandes melhorias pra vida funcional das mulheres.
A
questão da saúde ocupacional da mulher ficou por muito tempo esquecida, afirma
a professora, já que o trabalho da mulher ficou muito tempo invisibilizado.
Niilin diz que, por mais que tenha melhorado, ainda há a falta de
reconhecimento do trabalho da mulher. Afirma ainda que as pesquisas muitas
vezes desconsideram ou tentam neutralizar as especificidades do homem e da
mulher. Não se pode ignorar que as mulheres, na maioria das vezes, acabam tendo
uma dupla ou tripla jornada de trabalho, visto que ainda trabalha em casa, o
que afeta a sua saúde, podendo causar estresse, depressão, problemas cardíacos,
entre outros.
De acordo com dados do Censo de 2010,
Niilin mostra que o salário dos homens é, em média, 1.392 reais, enquanto o das
mulheres é, em média, 983 reais para realizar a mesma função. Realidade
discrepante, a qual ela aponta como violadora do preceito da Constituição, que
diz que não se pode haver discriminação por gênero.
Ao ser indagada sobre as repercussões que
ocorrem na vida familiar da mulher, quando esta se insere no mercado de
trabalho, a professora responde que, muitas vezes, há uma alteração negativa. A
mulher acaba sendo culpabilizada se houver qualquer problema na sua família,
seja com os filhos ou com a casa, devido ao seu emprego. Niilin relata que
apesar dos avanços e conquistas do gênero feminino, ainda há muito para se
conquistar.
O professor Cássio, discorrendo sobre a
maternidade, afirma que há empresas que resistem à contratação de mulheres
solteiras ou recém-casadas, pois não querem perder produtividade, e indaga
sobre como se pode enfrentar esse tipo de questão. A professora Niilin defende
que primeiro é necessário resolver o que ela considera o maior problema: como
podemos reorganizar o papel do homem e da mulher na vida familiar? Ela indica a
educação; os movimentos organizados; a pressão sobre o governo para criar novas
políticas que proporcionem uma melhor articulação do trabalho doméstico e das
relações familiares com o trabalho fora de casa, além de regulamentar as
políticas já existentes; e a punição para aqueles que não cumprirem tais
políticas.
No segundo bloco, o professor Cássio
abordou a questão da identificação profissional, destacando que há profissões
eminentemente masculinas; e outras, eminentemente femininas. Niilin defende que
isso não se dá naturalmente, é algo socialmente construído. Afirma que acredita
nas mudanças que vêm ocorrendo, mas diz que ainda são minoria as quebras de
posições culturalmente construídas.
A professora encerra o debate relatando
que, obviamente, há diferenças entre os homens e as mulheres, contudo, essas
diferenças não podem refletir em problemas para o gênero feminino. Atenta,
ainda, para o nosso dever de perceber que, se os papéis de gênero são
socialmente construídos, então, eles podem também ser desconstruídos.
Resumo por Taís Carvalho.
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