Homofobia nas relações de trabalho
Participaram deste programa Celina Amália e Alexandre Fleming, ambos professores do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará.
A homofobia é caracterizada por uma série de comportamentos críticos e hostis, como discriminação e violência verbal e/ou física, direcionadas à gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transgêneros. Assim como nos mais diversos setores da sociedade, a homofobia também atinge os contextos de trabalho, e a discussão acerca do tema torna-se imprescindível à busca ao respeito à diversidade sexual e à luta pela cidadania homossexual. Diante de tal necessidade, o Programa Vida no Trabalho convidou o professor do Departamento de Ciências Sociais Alexandre Fleming, que também é Coordenador do Laboratório de Estudos da Oralidade, além de estudioso e pesquisador da experiência transgênero. Como debatedora, convidamos Celina Galvão Lima, também professora do Departamento de Ciências Sociais e diretora do Departamento de Desenvolvimento Humano, ambos da UFC.
O professor Alexandre Fleming inicia o debate afirmando que a homofobia é o fantasma da construção ocidental da masculinidade. Nessa construção, o homem deve ser não-mulher, não-bebê, não-homossexual. Daí surge esse ódio ou aversão. Também aponta que a homofobia pode ser tida como uma espécie de adoecimento psíquico, tendo uma função de proteção psíquica. O professor salienta a diferença entre a visão do sexual do Oriente e no Ocidente, e como, no caso do Ocidente, essa visão está ligada a impositividades médicas de normalidade.
A professora Celina traz a ideia de que a homofobia é socialmente construída. A sociedade ocidental cultiva esse tipo de preconceito desde a infância, e ele se estende nas relações familiares, entre amigos e acaba também chegando as relações de trabalho. Alexandre Fleming da sequencia a discussão, constatando que os travestis são as maiores vitimas de violência física. Que a experiência do feminino em um individuo masculino incomoda a sociedade machista, e o que acontece, na verdade, é uma abominação do feminino, da imagem feminina numa figura masculina. O professor denomina essa fobia como feminofobia, que é a aversão à feminilidade no homem.
No ambiente de trabalho, afirma a professora Celina, o preconceito é mais velado. Dá-se através de recusas de determinadas propostas de trabalho, quando não se confiam cargos de chefia a pessoas homossexuais, ou quando se deixa de contratar alguém devido a sua orientação sexual. A violência nesses casos não é física e sim psicológica. No meio acadêmico, esse preconceito também ocorre. O professor Alexandre afirma que , nesses ambientes, onde se espera que haja maior esclarecimento quanto a essas questões, o preconceito pode ser percebido pelos não-ditos, pelas piadinhas
e risadas, pelos eventos relacionados ao tema que são barrados, considerados de ordem inferior e por isso não merecem ser discutidos.
O debate se volta para a questão da mídia e a propagação de estereótipos em relação as homossexuais. Alexandre Fleming diz que programas humorísticos e novelas, ao tratar da temática homossexual, trouxeram maior visibilidade para os homossexuais, principalmente travestis. Porém, essa visibilidade apresenta outro lado: a estereotipização e depreciação da imagem. Deve-se buscar uma exposição construtiva para a cidadania LGBTT.
As paradas gays são também uma forma de veiculação e luta pela cidadania LGBTT, e, embora a indústria do consumo em torno do evento seja muito grande, as paradas tem tido um efeito de reflexividade e abertura a uma experiência cidadã. As paradas tem o sentido de visibilidade e construção política.
O professor ressalta a necessidade de um Estado realmente laico, e traz a discussão acerca da bancada evangélica e do kit anti-homofobia, que teve sua veiculação vetada nas escolas.
O papel da família no enfrentamento a homofobia é extremamente importante, afirma o professor Alexandre Fleming. Quando a pessoa vitima de preconceito tem na família um suporte, uma não condenação, ela lida melhor com a discriminação. Ele comenta sobre a realidade dos travestis, que na maioria dos casos, são expulsos de casa e reatam o laço com a família através do sucesso financeiro. (a posteriori). A professora Celina ressalta o fato de que a família do homossexual também sofre pressão social e preconceito, e que esse olhar sobre o sofrimento da família deve ser considerado.
Nas escolas, o professor Alexandre observa que certos assuntos ainda são tabu, apesar da maior abertura para discussão do tema, sobretudo, devido a interditos religiosos. Ele acredita que a escola tem papel fundamental quanto ao respeito a diversidade e a diferença, e na desnaturalização da matriz hegemônica da sexualidade.
O debate termina com uma discussão acerca da criminalização da homofobia. O professor Alexandre ressalta a importância de uma não psicologização da fobia, de uma não vitimização do agressor. A professora Celina defende que uma maior rigidez nas leis e aumento de prisões não traria efeitos positivos em relação ao preconceito, que é a raiz do problema, deve-se dar importância a uma experiência anterior a criminalização, uma experiência formativa e educativa.
Resumo por Emille Melo.
Resumo por Emille Melo.
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